Minha foto
Jovem animada, acha que falta sorrisos e jazz no mundo. "Crianças estão agindo como velhos", diz ela "as pessoas acham que já viram de tudo e perdem as esperanças. Esquecem que os jovens só conseguem fazer revoluções por sua infinita capacidade de tentar, retentar e sonhar". A jovem que tem 21 anos estuda História e Artes Visuais e diz que seu próximo sonho a ser alcançado é poder dar aula.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

30 dias - Brú na Bóinne

UM MÊS! Parece que foi ontem que faltavam 200 dias!


Já pensou se existe alguma construção lítica mais antiga que o Stonehenge? Aliás, já parou pra pensar de onde J. R. R. Tolkien tirou a ideia da casa dos hobbits? Pois é, na Irlanda existe uma "casa de hobbit" mais antiga que o Stonehenge! Na verdade, mais de uma e elas são enormes! Venho mostrar pra vocês meu trabalho final da cadeira de arqueologia do semestre passado, Brú na Bóinne, o sítio arqueológico neolítico ao norte de Dublim, a capital irlandesa!


Brú na Bóinne é o complexo arqueológico localizado no meandro do rio Boyne, na Irlanda, cerca de 40km ao norte de Dublim. Considerado pela UNESCO Patrimônio Cultural Mundial, guarda a história de vários períodos do povo irlandês, desde o neolítico onde foram construídos, até seu atual status de museu. Dentro do Brú na Bóinne estão localizadas 63 mamoas, sendo três delas consideradas as mais importantes do complexo por tamanho e aparente função. Hoje é possível, em excursão organizado pelo lugar, visitar duas das três.
"Mamoas" é o que vocês chamariam de "casa de hobbit". É o nome de montes de terra com câmeras dentro, alguns animais fazem isso mas elas só serão chamadas de mamoas se tiver sido construção humana.

Newgrange, a mamoa mais antiga datada por 3.200 a.C. (o Stonehenge tem cerca de 3.000 a.C. e as pirâmides de Giza 2.500 a.C.), é também a mais famosa do complexo. Durante o amanhecer dos solstícios de inverno a câmara da mamoa se ilumina por cerca de 17 minutos com a luz do sol penetrando com exatidão pela pequena janela sobre a entrada, revelando a complexidade da tribo neolítica que a construiu, tanto social quanto intelectual. Pesquisas arqueológicas no Newgrange comandadas inicialmente por M.J. O'Kelly entre 1962 e 1975, e posteriormente por David Sweetman em 1982-84, revelaram que além de sua importância astronômica, Newgrange também era um túmulo.
Os corpos dos mortos eram incinerados do lado de fora da tumba, onde vivia a aldeia neolítica, e suas cinzas eram levadas pra dentro das vasilhas de uma das três pontas do final cruciforme da câmara, junto com pertences pessoais dos mortos. As pedras ao redor das mamoas e a forma com que elas foram construídas demonstram uma preocupação com a erosão, o interior da câmara é forrado com pedras e preenchido com terra, pra manter a câmara seca. Esse tipo de preocupação sugere uma sociedade bem desenvolvida, com especialistas (engenheiros, astrônomos, operários, ..) auxiliando na construção.

Knowth, ainda maior que o Newgrange, além de túmulo provavelmente também tinha alguma função astronômica, mas que atualmente encontra-se impossível de confirmar devido a alterações na geografia local (foi construída uma fazenda em frente a mamoa, que bloqueia a luz do sol). Knowth possui duas entradas, uma ao leste e outra a oeste – as duas não se encontram e acabam em câmaras diferentes, uma reta e outra cruciforme. A câmara reta possui 40 metros de extensão, sendo a mais longa da Europa. Devido as más condições de ambas as câmaras, elas se encontram inacessíveis para os visitantes. O túmulo é contornado por 127 pedras que seguram a terra sobre as câmaras e evitam a erosão com as chuvas. Todas as pedras possuem desenhos em baixo relevos, círculos, triângulos e principalmente aspirais.
Interior de uma das câmaras
do Knowth
Knowth foi muito utilizada durante a cristianização da Irlanda, milênios depois de sua construção, por famílias que moraram em cima do monte, sem saber do que se tratava. Durante os tempos de saque dos vikings as câmaras eram usadas para guardar os alimentos, mantendo longe dos vikings e longe de possíveis pestes devido ao clima do interior. Isso acabou transformando Knowth em um grande memorial arqueológico da Irlanda e suas escavações ainda hoje continuam.
George Eogan escavou Knowth usando uma polêmica técnica – a de desmontar toda a mamoa e depois a reconstruir. Com isso Eogan descobriu que o contorno de pedras era usado para segurar a terra dentro da área esperada enquanto se construía as câmaras de pedra. Praticamente todas as pedras, dentro e fora das câmaras, possuem símbolos entalhados que Sean Keir Moriarty estudou e diz serem representações vistas de cima das próprias mamoas. Outras teorias ainda envolvem o ciclo de vida e ano relacionado com as tumbas e até mapas astronômicos.

Dowth, o terceiro túmulo, foi inabilitado por uma escavação "amadora" anterior que comprometeu os estudos no lugar. Possui também duas entradas, uma para o sul e outra para o norte e a câmara sul é iluminada por quatro horas durante o por do sol do solstício de inverno. Atualmente não estão sendo feitas escavações no lugar e a área é proibida para visitantes. Lendas irlandesas dizem que a construção foi abandonada, deixando Dowth inacabado.


Brú na Bóinne é um marco da memória irlandesa. Além de sua importância histórica, a própria clássica mitologia irlandesa se criou no local onde os místicos irlandeses acreditavam que viviam “Sídhes” – fadas e elfos da mitologia irlandesa. O próprio Newgrange tem como apelido “Monte das Fadas”, o que me faz ter vontade de estudar a mitologia irlandesa!
Ainda não se sabe o que na estrutura social diferenciava as grandes mamoas das outras dezenas menores. Estima-se que seja de acordo com a importância que a pessoa incinerada tinha para a aldeia, suas cinzas seriam conduzidas para determinadas mamoas - os mais importantes e/ou queridos para as maiores, enquanto os menos importantes nas menores.

Reprodução de moradia no museu
Mamoa satélite ao redos das maiores
Interior do Newgrange
Atualmente você pode marcar visita no Brú na Bóinne e ir com uma excursão até o Newgrange e o Knowth. Durante o solstício de inverno há um sorteio para estar dentro da câmara durante o amanhecer, embora isso nem sempre seja grande sorte já que o tempo irlandês não colabora muito. Felizmente o sol bate certeiramente no chão da câmara por uma semana inteira, e é possível entrar no Newgrange durante os dias de menor movimentação. Na parte dos visitantes você ainda pode conferir o museu criado com os artefatos achados durante as escavações (e até uma réplica da câmara do Newgrange que simula a iluminação durante o solstício) e de réplicas de cabanas, roupas e instrumentos que não foram todos achados no mesmo lugar, mas de acordo com outros achados por todo o país, suas datas e estilos sincronizam.

Aqui vai um vídeo que agradeço ao Victor por me ajudar com a transcrição e a Priscila por ter feito a sincronização das legendas! O original sem legenda você encontra aqui.


Até mais!




Fontes:
- Knoth.com: http://knowth.powernet.co.uk/
- Newgrange - Monument to Immortality: http://www.mythicalireland.com
- Newgrange and the winter solstice: http://irisharchaeology.ie/2011/12/newgrange-and-the-winter-solstice/
- Newgrange: http://www.newgrange.com

Imagens:
- Newgrange panorâmico: http://www.adamdorman.com/photography/2/85/
- Planta do Newgrange: http://irisharchaeology.ie/2011/12/newgrange-and-the-winter-solstice/
- Knowth: http://www.newgrange.com/knowth.htm
- Interior Knowth: http://geodublin.com/tours/newgrange-valley-of-the-kings-tour/ (fonte não confirmada¹)
- Cabana: (fonte não encontrada¹)
- Interior Newgrange: http://www.flickr.com/photos/abaesel/2190142273/in/faves-renzodionigi/
- Mamoa satélite: (fonte não encontrada¹)


¹ Salvei em meu computador as fotos sem a página original, mas quando fui procurar as fontes para este post, não achei os links originais. Tenho certeza de que achei as três no flickr, ficaria agradecida qualquer informação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que acha?