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Jovem animada, acha que falta sorrisos e jazz no mundo. "Crianças estão agindo como velhos", diz ela "as pessoas acham que já viram de tudo e perdem as esperanças. Esquecem que os jovens só conseguem fazer revoluções por sua infinita capacidade de tentar, retentar e sonhar". A jovem que tem 21 anos estuda História e Artes Visuais e diz que seu próximo sonho a ser alcançado é poder dar aula.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Dear Diary - A jornada até Galway

Você já dormiu 16 horas seguidas? Pois então, eu fiz isso de sexta pra sábado. Me permitam contar a vocês o que me levou a cometer essa incrível façanha.
Tudo começou na manhã de 21 de Fevereiro de 2013, em Porto Alegre, quando numa bela manhã (6 da manhã, mais especificamente), eu acordei e pensei "é hoje que vou pra Irlanda". Tá que a manhã não era tão bela assim, o tempo tava meio fechado. Fui me arrumando e fechei as malas, comi alguma coisa, tomei um banho, recebi a dona Priscila que veio me dar tchau literalmente de última hora e peguei uma carona com meu pai pro aeroporto.

Salgado Filho > Guarulhos

Chegando lá a primeira coisa que eu fiz foi plastificar a minha mala. Não era a plastificação que eu tinha visto antes, daquele negócio que tu põem a mala num negócio que gira e ela vai se enrolando num plástico verde - mas o que eu fiz era tão genial quanto. Eles colocavam a mala num "caixão", esse "caixão" tinha um plástico em baixo e colocavam outro por cima da mala e fechavam ela ali dentro. Eis que o caixão não era um caixão, era um forno, e o plástico derreteu até ficar do tamanho da mala!! Uma das coisas mais geniais possíveis! Aí depois eles cortaram as partes das rodinhas e as alças, reforçaram o plástico com fita adesiva e pronto. 35 reaizinhos.
Aí eu fui pros guichês da TAM, no fundo do Aeroporto Salgado Filho fazer meu check in. Peguei com eles só uma notinha fiscal, eu teria que tirar as passagens nos guichês da Iberia em São Paulo. Aparentemente deu tudo certo com as malas, uma tava acima do peso e outra abaixo, então somando as duas e dividindo por dois as duas tavam dentro do limite - eu acho. Mas eu mal tinha andado com a bolsa (a "mala de mão" que tava o notebook) e meu ombro já tava doído. Pensei que deveriam ser muito espertas as pessoas que tinham malas de mão de rodinhas ("malinhas").
Enfim, passei pelo detector de metais e tive que tirar tudo da bolsa e usar umas três cestinhas. E depois colocar tudo de volta. Eu tinha sentado a não mais de três minutos quando anunciaram o embarque pro meu voo. Aí eles chamaram pro grupo e fomos entrando. Acho que eram umas 10:15 isso, por aí.
O avião era pequenininho, 6 cadeiras por fileira, 3 de cada lado da janela. Ele saiu bem na hora, mas ficou uns 20 minutos esperado permissão pro voo.
Eu já comentei que eu adoro a sensação de decolagem? Tanto a sensação de estar saindo do chão quanto aquela que a vista da janela te dá. Por algum motivo os meus voos eram todos perto da asa do avião, o que até foi bom porque eu tinha um ponto fixo pra onde olhar quando eu ficasse tonta (o que não aconteceu, aliás). A coisa mais legal é quando tu sai de um tempo feio e armando pra chuva como tava em Porto Alegre, entra num nuvem e não enxerga nada, e logo em seguida tu fica sobre todas elas. As nuvens ficam lá em baixo e tu tá direto com o sol.

 

Guarulhos > Barajas

Ok, São Paulo é enorme. Os morros láááá do fundo tinham casas também, era um negócio super absurdo. Não sei se Porto Alegre chega a ter 1/20 do tamanho de São Paulo (Wikipédia corrige: 1/4, se eu soube fazer esse cálculo certo) e também não sei dizer se eu vi o limite entre São Paulo e Guarulhos. Sei que nós ficamos 20 (VINTE!) minutos esperando um outro avião da TAM liberar uma vaga no estacionamento e mais 20 porque deu problemas no finger. Eu desembarquei e quantos graus tava? 72? (31°C, na verdade). Fui direto pro banheiro e em seguida dei voooltas e mais voltas procurando pelo guichê da Iberia. Achei, dei meu dados, peguei minhas passagens e fui pro Viena almoçar.
Aí eu tive um pequeno problema, eu tava com a bolsa pendurada em uma mão, o casaco alpino gigante e volumoso em outra e segurando o travesseiro de viagem em alguma outra. Eu entrei, tentei segurar uma bandeja, não consegui, peguei um carrinho, vi que eu iria ter que deixar ele sozinho no meio do restaurante, deixei o carrinho e fui almoçar carregando tudo na mão, mesmo.
Sentada na mesa eu fiquei observando como São Paulo tem muito mais cara de Brasil do que Porto Alegre. Tá certo que era um aeroporto, mas eu vi uma quantidade muito maior de feições orientais do que eu sou acostumada - aliás, em Porto Alegre é muito mais fácil tu ter uma genética que te puxou os olhos (tipo, indígenas) do que de fato ter descendência direto de orientais.
Janta no avião.
Mas aí eu, já toda doída nos ombros, paguei e céus, quando eu vi faltava 10 minutos pro horário que a Iberia recomendava que eu estivesse na frente do meu portão - horário esse 1h30min antes do embarque. Aí eu quase dormi sentada já dentro da área de espera pro embarque, fui no banheiro e quando voltei tava lotado o lugar. Uma paulista por ali veio puxar papo comigo e eu descobri que ela também tava indo pra Dublim, ela tava achando que não iria precisar usar casaco pq iria sair do aeroporto direto pra uma condução - e eu dei uma risada. 45 minutos antes da hora de embarque começaram a chamar os primeiros grupos, e quando eu entreguei minha passagem não faltava mais de 20. O voo em geral não teve grandes coisas, só quando fui filmar a decolagem a comissária de bordo disse que não podia. O avião tinha 8 acentos por fileira, duas nas janelas e 4 no meio, e umas TVs espalhadas por aí.
Eles deram, depois de umas duas horas de voo uma bandeja com comida por conta "da casa" (também conhecido como "você pagou por isso na passagem mas não sabe"). Dentro de um potinho de alumínio veio um prato que eu não faço ideia de qual o nome (a espanhola do meu lado disse "pasta", o que é bem relativo), parecia massa de lasanha enrolada em algum molho, um potinho com legumes e uma espécie de bolo que parecia um pudim 50x mais denso. Mas tava tudo bem gostoso e quentinho (pro frio que já tava fazendo ali dentro)! Eu dormi umas quatro vezes depois da janta, levantei uma vez pra ir no banheiro e colocar a meia-calça por baixo da calça, e logo em seguida ela começou a me apertar um pouco na barriga. Eu ficava agoniada porque lá fora escurecia e eu não via o mar, até que apareceu um mapa em uma das televisões e eu descobri que o avião iria por terra até Natal. Pois escureceu, eu dormi e não vi o avião sair do continente.
Lá pelo o que faltava pouco menos de 1 hora pro pouso nós entramos na África, não sei dizer qual país. Eram pequenas luzinhas não muito concentradas e bem espalhadas lá em baixo. Aí também serviram o café da manhã, que eu já tava meio ruim e não comi tudo. Era um pão, coisas pra colocar no pão (Polenguinho ♥), um bolinho de laranja, um potinho com frutas e um suco. Lá pelas tantas eu pedi um chá preto, também.

Café da manhã.

Barajas > Dublim

Desembarcamos sem problemas. Saímos na área de conexão que era absurdamente enorme. Mas era tão grande que tinha esteiras pra andar. Tipo, sozinhas as esteiras eram mais lentas do que o andar normal, mas andar sobre as esteiras fazia com que tu cortasse um bom caminho.
Vi que mudaram o portão de embarque do meu voo e fiquei confusa, fui na sala VIP da Iberia ver isso e eles disseram pra eu ficar olhando os painéis e não me deixaram entrar na sala pq eu sou cliente classe econômica (hunf!) então nem pude ligar (apesar de que eram 3 da madrugada no Brasil) já que meu celular não tinha nada de sinal.
Aí eu fui procurar um pouco de chá pra ver se aliviava um pouco o estômago ou pelo menos comprar água. E bom, a Espanha é conhecida por seus vinhos, mas não pelos seus chás, logo, quando eu fui procurar eu simplesmente não achei em menu algum. Então voltei pro portão e esperei que tivesse água no avião.
Foi meio absurdo a quantidade de brasileiros que eu via ao redor. Já tinha uns 15 comentando a viagem, aí chegou mais uns, 10, todos pro voo de Dublim e todos estiveram no mesmo avião que eu pra Madri.
Aí nós embarcamos. E o avião subiu pra cima das nuvens. E tinha muitas nuvens. Muitas nuvens. O trajeto inteiro até Dublim foram só nuvens. Nos poucos espaços que tinha era algo fantástico, era como se o céu tivesse várias camadas de vidro e cada uma dessas camadas tinha um pouco de nuvem, aí nos buracos que não tinha tu podia ver todas essas camadas, o aumentava a sensação de distância até o chão. Era lindo!

Conforme fomos chegando na ilha as nuvens forma ficando estranhas, o topo delas ela extremamente liso, quase com a textura de couro, e ao redor das ilhas tinha uma "neblina". Não sei qual o nome que a "neblina" acima das nuvens leva e nem quais fatores físicos formaram ela, mas ela era tão estranha e parecia tão sobrenatural daquela forma que eu simplesmente concluí que eram as brumas.
Durante o pouso o avião ficou super perto do topo da nuvem, dava a sensação de que se tu sentasse na asa tu ficaria com os pés mergulhados na nuvem (aí o vidro congelado me lembrou que não era bem assim). Consegui tomar meu chá e beber algo pro estômago. O avião desceu por um bom tempo, a nuvem era bem expressa, até que conseguimos ver o solo irlandês. Tinha ovelhas extremamente peludas pra todo o lado e parecia ter muitas, muitas plantações.O tempo estava (e ainda está) solidamente fechado. 10:30 no horário irlandês.

Um pedaço do Aeroporto de Barajas.

Dublim > Galway

O pouso foi meio violento, chacoalhou bastante lá dentro. Mas fora isso não tivemos muitos problemas. Quando saímos pude finalmente colocar o casaco e diminuir um pouco o volume da mão e ouvi os outros brasileiros reclamarem do frio lá atrás. Aí parei e esperei na longa fila do visto. Primeiro atenderam, como sempre, os irlandeses, depois aqueles que estavam ali só pra turismo, até que um dos policiais saiu do gabinete e perguntou pra fila "todos da fila são estudantes? TODOS? Jesus". Não demorou muito, mas foi mais porque eu tava no começo da fila. Só pediram meu passaporte, a escola que eu ia, eu tirei uma foto e me deram uns papéis e um prazo pra regularizar minha situação no país. Não foi difícil entender, na verdade.
Aí eu saí e fui procurar minhas malas, que estavam numa esteira que não girava e os caras jogavam elas pra fora. Achei as duas sem problema, uma delas tava um pouco molhada por fora pq o plástico tinha sido rasgado, mas não tinha nenhum sinal de que tinha sido arrombada ou coisa do tipo.
Peguei minhas coisas, e saí. Percebi que tava com fome e fui procurar qualquer coisa pra comer - ok, não qualquer coisa, um almoço cheio de massa iria cair bem. Mas só tinha sanduíches, o que me lembrou que britânicos em geral só almoçam sanduíches. Frustrada, almocei meu croissant e fui procurar o ônibus 747 da Airlink, que me levaria até a estação de trem. Comprei a passagem num quiosque e o motorista me ajudou a colocar as malas lá dentro, no lugar de colocar as malas. Como não tinha mais espaço ali, subi - o ônibus era de dois andares.
Tive uma visão bem legal de Dublim, ela tem uma mistura de tudo, principalmente de inglês e seus tijolinhos, mas em muitas áreas não deixa de ser essencialmente irlandês (simples). Depois eu fiquei preocupada com as minhas malas e voltei pro andar de baixo, que já tava mais vazio. Cheguei na estação já bem cansada e doída, quando fui tirar meu cartão na máquina descobri que tinha esquecido de anotar o número da reserva. Fui em outra máquina com acesso à internet e vi e voltei pra outra máquina e fui pro trem.
Esse teto é genial. As lamparinas apontam
pros REFLETORES no teto que espalham
a luz pra todos os lados!
O trem era lindo, imenso, quentinho e confortável. Mas o lugar pra colocar a bagagem era em cima e eu tava pensando em ficar de pé quando um simpático cidadão local me ajudou a carregar elas pelo vagão e a colocar elas num bom lugar. A essa altura pude perceber duas coisas sobre irlandeses: eles são muito barulhentos e extremamente bem educados.
Ele não ia tão rápido quanto eu esperava e era ao ar livre, mas ia mais rápido que o ônibus. Acho que quando as estações eram longe ele chegava a uns 100-110km/h. Eu apaguei umas quatro vezes e sempre me pegava dormindo de boca aberta. Uma hora um dos rapazes do meu lado me pediu licença em um idioma desconhecido - suponho que seja o irlandês. Tinha lanche no trem, mas eram meio carinhos~
Cheguei em Galway e tive que pegar um táxi. O cara foi super gente fina e começou a me apresentar os pontos turísticos da cidade, carregou minhas malas e gostava de bater um papo. Não deu 8 euros a viagem.

Enfim eu tava "em casa". Na minha casa pelas próximas duas semanas. E cara, eu tava podre, vocês não tem ideia. Cheguei as 4, um pouco depois das 5 o jantar estava pronto, voltei pra cama lá pelas 8 depois de bater um papo e apaguei até o meio-dia do dia seguinte. Quase não acreditei que eu tava deitada numa cama totalmente horizontal.

Um pouco de Galway

Hoje eu perdi o café, obviamente, e saí pra almoçar alguma coisa e conhecer a cidade. No começo o frio foi meio desconfortável, o frio entra nas narinas e congela tudo que tenha água ali dentro, e os meus ouvidos costumam doer se não estiverem bem tapados. A primeira coisa que eu vi foi um McDonalds, eu não queria repetir o mesmo erro de Buenos Aires, mas como eu tava com muita fome eu comi um BigMac, mesmo. Ali eu percebi que as meninas adolescentes são muito mais rebocadas na rosto do que o normal, chega a ser artificial de tanta coisa que elas passam e pela quantidade de tinta no cabelo. Também percebi que irlandeses são relativamente bem acostumados com o frio, as roupas na Dunnes eram relativamente fininhas e ninguém usava nada tão alpino como eu, era quase como se só tivesse um ventinho frio pra usar casaco. Vi várias meninas de meia calça e vestido/saia, pessoas com o tornozelo de fora e gente com o pescoço completamente de fora e nada na cabeça ou mãos.
Sobre a Dunnes, uma espécie de supermercado que tem em várias partes da Europa, tudo era extremamente barato levando em conta o salário mínimo irlandês. Quer dizer, lembra do preço das coisas quando o Real começou a valer no Brasil? O preço dos produtos antes de 2000? Mais ou menos por aí, se não até mais baratos. Com € 700 aqui (mais ou menos quanto está o salário mínimo no Brasil?) qualquer um passava super bem com o básico e ainda sobrava uns € 100 pro laser. Ao contrário da Argentina, que com 50 pesos tu mal comia um lanchinho na rua.
Fui pro centro da cidade e entrei em umas lojas, comprei a lactase numa farmácia de produtos naturais, achei uma loja de coisas irlandesas e pensei em presentes mas não comprei nada, entrei num shopping, fui num banheiro que tive que pagar 20¢ pra passar pela catraca, tomei um chá (de graça!) numa lojinha de 1,99 que servia água quente e sachês de já gratuitos e voltei pra casa.
Ou tentei. Chegando aqui perto eu passei mal e por alguns momentos achei que fosse vomitar. Olhei de cara amarrada pro McDonald's que eu tinha comido e culpei ele. Mas cheguei em casa, tomei um remédio e consegui jantar tranquilamente.
Aqui comigo, além da dona da casa aposentada (Dreirdre, um nome aparentemente comum já que eu achei chaveiros com esse nome) tem também três crianças (o mais velho se chama Aaron, que também achei nos chaveiros), um marido trabalhador que eu ainda não conheço ("Ele existe! Eu juro!" disse Dreirdre hoje), um estudante francês (Loïc) e hoje chegou um espanhol (Héctor). Cada um tem seu quarto super confortável e as crianças são super sapecas. Conversei bastante sobre os sobrenomes hoje no jantar e as crianças tentaram acham onde eu tinha cosquinha.

Bom, por enquanto é isso. Eu ainda to com as costas e os ombros doídos e meus braços ainda parecem serem feitos de chumbo por carregar as malas. Amanhã vou ver se compro um chip e procuro o leite sem lactose que a Dreirdre me pediu.

Esse post tá um pouquinho atrasado porque eu estava tentando arrumar um vídeo pra colocar junto. Eu ainda estou tentando ajeitar o vídeo, mas resolvi colocar o post no ar antes ou iria demorar séculos! Como eu resolvi filmar ao invés de tirar muitas fotos, achando que daria uma noção melhor da viagem, eu tenho poucas fotos. Vou tirar mais assim que o tempo melhorar um pouco e eu tiver menos coisas pra carregar na mochila.

Até a próxima!

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